Por Cristina Silveira
A Capela em São Pedro está em seu lugar e bem cuidada. E nas redondezas fica a Fazenda São Pedro, de propriedade da Adelaide Moraes Quintão, viúva do Custódio Guerra, da Cisne. A convite dele visitei a Fazenda em companhia da artista Liliane Pires, passe livre e irrestrito na casa grande dos primos.
Era domingo. Como é um bom costume, nos achegamos direto na cozinha enorme povoada de mulheres, crianças, e de goiabas no cesto, na peneira, e que no tacho fumegava borbulhas e espirros vermelhos. Cheiro de goiabada lá fora no terreiro agraciando abelhas e pássaros. Solicitude de um domingo de sol.
Dessa cozinha guardo uma imagem fabulosa. Logo na entrada dela, dois tanques grandes, sem torneiras, como um monumento a Yara, senhora dos rios. Água de Cano, fresca, boa de beber, vazante numa lagoa de peixes perto da casa. Em todo caso, aquilo perturbou músculos e memória de uma sobrevivente de 7 dias sem o abastecimento de água numa cidade 40 graus.
Conto essa história que eu nem me lembrava mais, vinda à tona, nestes dias,quando buscava um documento qualquer e avistei uma xeroques do artigo Barba Azul, com anotações para investigar o carpinteiro da Capela São Pedro. Reencontro o seriel-kiler J. Bom, absolvido pela justiça, pela imprensa e outros.
Eu queria saber como viveu o sétimo casamento? Ela ou ele: quem morreu primeiro? E o nome do Custódio é o primeiro da lista para a consulta, numa telefonagem falei do artigo, mas ele não sabia do caso, entretanto não estranhava o nome, Joaquim Bom; deu notícias da Capela e prometeu investigar. Mas não deu tempo…
A barba azul do feminicídio
Joaquim Bom, o Barba Azul, casou-se pela sétima vez…
Joaquim de Almeida Bom!
Não há entre nós quem desconheça este nome, celebrado nos anais do crime.
Baixo, claro, aloirado, de boas maneiras, simpático mesmo, custa-se acreditar nas façanhas que esse homem escreveu a ferro, fogo e sangue… Entretanto a sua fama de matador de mulher corre mundo. É o mais popular dos uxoricidas. E também o mais velho, pois tem cerca de 60 anos.
Há menos de um ano, Joaquim Bom foi julgado pelo júri desta cidade que o absolveu, por falta de provas. Vinha de Ferros, condenado pelo seu último crime. Matara a mulher, uma pobre doente e indefesa criatura.
Vimo-lo e ouvimo-lo certa vez, quando se encontrava na cadeia local.
Bom, é conversado, vivo e prende logo a atenção do ouvinte. Hábil, não conta nunca as suas façanhas.
É uma eterna vítima dos erros judiciários… Então, “desta vez dizia-nos ele, não tenho culpa alguma no cartório. A minha mulher era doente, opilada e sifilítica.”
Homem ocupado, Bom era mestre carpinteiro, não podia tratá-la convenientemente.
“Mandei dizer ao sogro que viesse buscar a filha. Ele mandou um cargueiro, com dois balaios, desses que servem para puxar milho das roças. Não podia perder a ocasião e despachei a mulher, colocando-a no fundo do balaio e no outro, para o equilíbrio da carga, uma pedra. Na viagem, devido o balanço do animal a mulher arranhou-se de encontro as taquaras secas do balaio e arruinou-se… Estava muito encaliçada a coitadinha…”
A verdade, porém, é que Joaquim Bom apareceu no Tribunal trôpego, abatido, humilhado. Olhou para a imagem de Cristo e chorou copiosamente…
No dia seguinte, a liberdade restituiu-lhe certo vigor na marcha e uma expressão viva no olhar. Era outro homem e já falava em casamento.
Joaquim Bom estava atualmente construindo uma capela em São Pedro. Ali conheceu e enamorou-se da doméstica Maria Pedro Moreira, preta, viúva e com ele, casou-se no dia 27 do mês passado.
Este é o sétimo casamento do Barba Azul.
*Crônica publicada originalmente no Jornal de Itabira, em 10.6.1931.
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1 comentário
Este texto, me parece foi escrito pelo João Fernandes, um redator do Jornal de Itabira. E foi bem lembrado que o poeta Drummond adotou este apelido para publicar suas crônicas. De todo modo o que nos conta o artigo do jornal do Zinho é de que nada mudou pra melhor. As lições do passaado não alteraram o presente. O que será do futuro?