Maria Julieta Drummond de Andrade
(Belo Horizonte, 4 de março de 1928 – Rio de Janeiro, 5 de agosto de 1987)
O Encontro
Oswald de Andrade
Houve quem estranhasse eu ter citado alguns novíssimos na resposta ao inquérito promovido pelo novíssimo Paulo Mendes Campos no Diário Carioca. Um desses nomes é o de Maria Julieta Drummond de Andrade, que recentemente apareceu com uma novela A Busca.
Claro que eu não podia citar todos os estreantes que merecem relevo. Principalmente não conheço todos e poucos livros recebo, depois porque ando em falta de memória e, por isso, muita injustiça tenho cometido. Há outra escusa e esta muito séria.
Eu citei alguns jovens e joveníssimos que representam a maturidade da prosa de 22. Se fosse citar os poetas moços não poderia esquecer os paulistas entre eles Péricles Ramos, Domingos Carvalho da Silva e Geraldo Vidigal que foi prefaciado por Mário de Andrade.
O que fiz foi colocar Maria Julieta não na busca, mas no encontro de si mesma, que representa o seu primeiro livro de prosa. Na criança escritora dá-se o contrário do que geralmente se vê: a forma excede o conteúdo.
Maria Julieta tem sensibilidade demais para o pequeno episódio que criou. O acontecer não atingiu ainda essa cabeça loira tão justamente almofadada de carinhos, desvelos e cuidados.
O que há nela é uma culturização ascendente o que a levará longe. Na escrita ela acentua a renovação estilística por nós iniciada. Em A Busca, Maria Julieta se encontrou. Ela é uma escritora e sua prosa nada tem que ver com a de Carlos Drummond, seu pai, que deu O gerente um dos inesperados frutos da grande novelista nacional.
A influência do mestre sobre a filha deve ser toda interior, de formação erudita e de ótimos costumes mineiros. É o bastante. Não há n’ A Busca nada de severo ironista que consolidou com a sua obra a moderna poesia do Brasil.
[Suplemento Letras e Artes, 15/2/1948. Hemeroteca BN-Rio]
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ATENÇÃO ECOLOGISTAS: no dia 4 a Vila vai publicar entrevista, feita por Maria Julieta sobre meio ambiente.