Carlos Cruz
Pois essa cultura de sonegar informações tem ocorrido sistematicamente em Itabira, pelo menos é o que se observa nos últimos anos, como agora descobre também a Agência Nacional de Mineração (ANM) com relação à informações que foram omitidas pela mineradora Vale, no caso da tragédia criminosa de Brumadinho.
Com a movimentação que tem ocorrido na cidade nos últimos dias, a “rádio peão” informa que a mineradora já se prepara, e mobiliza empresas e pessoal para o descomissionamento de suas barragens, a começar pelos diques do Pontal. Como se sabe, a “rádio peão” tem a fama de que “aumenta, mas não inventa”.
De acordo com a mesma fonte oficiosa, a empresa se prepara também para executar as obras de adaptação da usina 2 de Conceição, recém- construída para processar o itabirito duro, instalando um sistema de filtragem para já processar o minério a seco – uma alternativa para não ter de dispor rejeitos úmidos – e perigosíssimos, agora se sabe, nas barragens.
“Oficiosamente estamos sabendo que está vindo para Itabira uma empresa que empregará cerca de 800 trabalhadores para instalar um sistema de filtragem, como também para realizar o descomissionamento de barragens”, afirma o vereador e sindicalista André Viana, presidente do sindicato Metabase.
Entretanto, segundo o sindicalista, até agora a empresa se limitou a informar que a operação dessa usina será paralisada por 60 dias para dar manutenção. Mas o sindicalista acredita que há algo a mais nessa desmobilização parcial de pessoal que trabalha nessa planta de processamento de minério.
Por meio de sua assessoria de imprensa, como tem sido recorrente, a mineradora não confirma nem desmente essas informações. Laconicamente, responde às indagações deste site que “tem investido em tecnologia para tornar suas operações mais seguras e que todos os métodos ainda estão em estudos”.
Sem responder às indagações da imprensa local, a Vale deixa de informar corretamente à sociedade itabirana de seu presente e futuro na cidade, o que, direta e indiretamente, tem implicações na vida da população que aqui vive e trabalha.
É assim que não desmente nem confirma que se prepara para adaptar a usina 2 de Conceição para concentrar minério de ferro a seco. Com isso acaba por alimentar a central de boatos, o que traz insegurança e impede até mesmo que a cidade se prepare, com antecedência, para receber um número elevado de trabalhadores de outras praças, como ocorreu com o projeto Itabiritos no passado recente.
Adaptação necessária
A mudança na forma de tratamento de minério é imprescindível para a continuidade e até permanência das operações da Vale em Itabira. Além de ser fator crucial em termos de segurança, pois por esse método o rejeito da usina será disposto em pilhas, como já ocorre com o material estéril retirado das minas, ao invés de ser depositado em barragem, a concentração a seco é também ambientalmente mais correta.
Isso por reduzir significativamente o consumo de água nova no processo de beneficiamento. Isso pode representar também a redução das outorgas que hoje a mineradora dispõe, liberando enfim a água dos aquíferos, ou pelo menos parte significativa, para o consumo na cidade. E também para a atração de novas indústrias.
Mas a empresa sonega essas informações à sociedade itabirana que vive na boca da mina, enquanto os diretores no Rio planejam como auferir mais lucros com as já quase exauridas minas que fizeram a fortuna dessa empresa que se tornou uma das maiores mineradoras do mundo.
Ao sonegar informações, a Vale perde assim o que resta de sua credibilidade junto à opinião pública local e nacional. E caminha célere, também pela falta de informações confiáveis, para perder a credibilidade junto aos rentistas do mercado, que ela tanto preza –e que é a razão primordial de sua existência.