Carlos Cruz*
Com participação de católicos de todos os bairros de Itabira, a Diocese de Itabira/Coronel Fabriciano lançou nesse domingo (18/02), no bairro Pedreira do Instituto, a campanha da Fraternidade de 2018, tendo como tema Fraternidade e Superação da Violência, com o lema Em Cristo somos todos irmãos (Mt 23,8).
“A escolha do bairro Pedreira do Instituto para o lançamento da campanha se deve ao fato de os moradores sofrerem mais com a violência, principalmente pela ausência de políticas públicas, da presença do Estado e pela falta de emprego, que vitima grande parte de sua população”, justifica o padre José Geraldo de Melo, coordenador das Pastorais da Diocese.
Segundo ele, a violência hoje está generalizada, presente em todos os lugares, atingindo principalmente negros, jovens e mulheres. “São os grupos mais vulneráveis, que sofrem com a falta de políticas públicas, tema que já foi escolhido para a campanha da Fraternidade de 2019”, adianta o coordenador das Pastorais.
A campanha da Fraternidade é lançada todos os anos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – e prossegue pelo período da Quaresma. Teve lançamento oficial no dia 14, em Brasília, seguindo com reflexões nas paróquias, escolas e comunidades até o dia 29 de março. “É um momento de reflexão e, sobretudo, de ação por uma cultura da paz, por uma sociedade sem violência”, emenda padre Melo.
A Igreja Católica, segundo ele, entende que a violência não é causa, mas consequência da perda de direitos sociais. “É preciso que o Estado assuma as suas responsabilidades e implemente políticas públicas que assegurem direitos fundamentais. Sem isso, a violência aumenta e segue generalizada por toda sociedade”, prevê.
Corrupção e miséria
Ele relaciona também a corrupção como uma das causas da violência. “Ao desviar recursos públicos, o político comete crime contra a sociedade, principalmente em prejuízo das populações mais carentes. É uma violência contra o ser humano e que agrava a miséria”, protesta.
Segundo o coordenador das Pastorais, o papa Francisco já há algum tempo tem abordado o tema – e pede o engajamento de todos os cristãos na luta para erradicar a miséria e assim minimizar todas as formas de violência, que está presente também nas redes sociais e na televisão. “A cultura da violência está disseminada nas relações interpessoais e políticas. É a cultura do ódio que se vê propagada das mais diferentes formas que devemos combater.”
O resultado é traduzido em tragédias pessoais, nas famílias e por toda a sociedade. Em 2017, forram registrados mais de 60 mil homicídios no país. “Não é com mais violência que conseguiremos disseminar a cultura da paz, mas com mais educação, saúde e emprego para todos”, prega o padre José Geraldo de Melo.
Acrescente-se que não é também com intervenção militar, como a que se vê no Rio, que a cultura da paz será alcançada. A má distribuição de renda é, sim, uma das principais causas da violência social e institucional que grassa no país.
De acordo com o IBGE, em 2016, o ganho médio de uma pessoa que integra o grupo de 1% da população mais rico era equivalente a 36 vezes o ganho de uma pessoa que integra o grupo da metade mais pobre.
Esse grupo minoritário teve rendimento médio de R$ 27 mil mensais, enquanto 44,4 milhões de pessoas que integram o grupo de 50% com menor renda obtiveram renda média de R$ 747. Ou seja, ganham menos de um salário mínimo.
“Sem resolver a questão social, não há como acabar com a violência que é política. E a cultura da paz só será realidade no país com mais políticas públicas que beneficiem a todos e que protejam os cidadãos mais vulneráveis”, diz o coordenador das Pastorais, para quem não só o Estado, mas todas pessoas, principalmente os cristãos, devem contribuir para diminuir as desigualdades sociais. “A fraternidade é a superação da violência. Todos devem participar.”
Nessa tarefa, diz, a igreja de saída trabalha pela cultura da paz junto às pessoas que sofrem nos lugares mais difíceis, onde o Estado está ausente, como é o caso do bairro Pedreira do Instituto – e em tantos outros bairros no município e no país. “O povo de Deus é convidado a sair dos templos e ir aonde o povo está. É a igreja missionária, mais próxima do povo que sofre.”