O vereador Reginaldo “do Carmo” das Mercês Santos (Patriota) voltou a usar a Tribuna da Câmara, nessa terça-feira (30), para reiterar as denúncias que fez, na sessão da semana passada, contra o presidente da Câmara, vereador Heraldo Noronha (PTB).
Ele acusa o seu ex-correligionário de ter recebido parte dos salários de servidores de seu gabinete, num esquema nacionalmente conhecido como “rachadinha”. Noronha nega veementemente a grave acusação.
O parlamentar sustentou que tudo não passa de armação de uma servidora que trabalhava em seu gabinete, descontente por ter sido demitida, juntamente com outras funcionárias, em cumprimento de um termo de ajustamento de conduta firmado com o Ministério Público.
Disse ainda que a denúncia do vereador contra ele é também uma forma de revanchismo, após Reginaldo ter sido advertido pela Comissão de Ética e Decoro Parlamentar – e receber “uma pena branda” pela acusação de ter cometido crime de assédio sexual, cometido contra uma outra servidora da Câmara Municipal, em abril do ano passado.
Perseguição
Assim como faz Noronha, Reginaldo “do Carmo” também nega a acusação. Alega também ter sido vítima de perseguição política, por não ter votado favorável ao projeto de parceria público-privada de transposição de água do rio Tanque para abastecer a cidade, projeto do prefeito Ronaldo Magalhães (PTB).
“Alguém, maldosamente, vazou a imagem. Pedi cópias, inclusive com a relação de quem tem acesso a essas câmeras, para a minha defesa. Até hoje eu não as recebi”, protestou o vereador na sessão da Câmara, ao fazer as denúncias contra Heraldo Noronha.
Ao reiterar as denúncias na terça-feira, Reginaldo “do Carmo” entregou aos vereadores cópias de depoimentos da ex-servidora que denunciou Noronha – e também de seu marido, que teria sido amigo e cabo eleitoral do presidente da Câmara nas eleições passadas.
Disse também ter encaminhado ofício à Comissão de Ética e Decoro Parlamentar reiterando as denúncias, juntamente com cópias de recibos que comprovariam os depósitos de servidores na conta bancária de Heraldo Noronha.
“Espero que essa comissão investigue o caso”, disse ele, voltando a pedir o afastamento de Noronha da presidência da Casa legislativa. “É para que ele não atrapalhe as investigações”, justificou.
O parlamentar pede anda que seja investigado o “uso indevido” do veículo a serviço da presidência da Câmara com objetivos eleitorais. Segundo ele, a alta quilometragem rodada por esse veículo, mesmo com a pandemia, foi para transportar possíveis eleitores de Noronha para atendimento em Belo Horizonte. “As acusações são fortes e gravíssimas”, disse ele.
Depoimento
Em depoimento à Polícia Civil, que investiga o caso a pedido do Ministério Público, a servidora demitida disse ter sido contratada para trabalhar no gabinete de Heraldo Noronha assim que ele tomou posse, em 2017.
E que teria assumido o cargo como “acerto político” com o seu marido, ex-cabo eleitoral do presidente da Câmara. Foi quando Heraldo Noronha teria comunicado que todos teriam de contribuir “para uma caixinha para a próxima eleição”.
E que essa contribuição era a condição para permanecer no cargo, afirmou em seu depoimento à Polícia Civil. Disse que, como secretária parlamentar, com salário de R$ 2,2 mil, depositava mensalmente R$ 50 na conta bancária de Noronha.
Depois, ao ser promovida para assessora parlamentar, com salário de R$ 4,5 mil, passou a depositar R$ 500 mensais. E que ao assumir a chefia do gabinete do vereador, com salário ainda maior, os depósitos mensais passaram a ser de R$ 1 mil.
A ex-servidora contou ainda que a sua demissão teria ocorrido pelo fato de seu marido não ter concordado que ela fizesse um empréstimo bancário de R$ 20 mil. junto à Cooperativa dos Servidores Municipais (Cosemi), que seria repassado a Heraldo Noronha. E que o empréstimo seria deduzido das quantias mensais que teria de repassar para a “caixinha” de campanha.
Heraldo Noronha diz que irá provar que tudo não passa de armação
O presidente da Câmara repudiou a acusação e pediu ao vereador Reginaldo “do Carmo” que apresente, na próxima sessão legislativa, provas de que tenha ocorrido esse empréstimo em seu favor, junto à Cosemi.
Segundo a ex-servidora que o denunciou, o empréstimo acabou sendo feito por outro servidor do gabinete de Heraldo Noronha.
De acordo com a defesa do presidente da Câmara, na sessão legislativa desta semana, ele tem condições de provar que os depósitos em sua conta bancária foram transferências para a “caixinha” da festa de fim de ano dos funcionários. “Me pediram para usar uma conta bancaria que eu tinha e que estava sem movimentação”, disse ele, em entrevista a este site.
Ainda segundo o vereador, esse tipo de “caixinha” era comum entre colegas de trabalho na Vale – e com isso achou que não haveria problema ter algo semelhante na Câmara Municipal. “Eu mesmo pedi para desativar a conta e todas as quantias depositadas foram devolvidas”, assegurou Heraldo Noronha na mesma entrevista.
“Se eu fosse uma pessoa desonesta não estaria aqui. Tive mais de 800 votos de pessoas do meu bairro que me conhecem bem”, disse ele, como prova de sua honestidade.
“Todos os vereadores aqui foram investigados, mas só dois, infelizmente, foram presos e cumprem pena em prisão domiciliar”, afirmou Heraldo Noronha, antes de Reginaldo “do Carmo” apresentar o que seriam mais provas contra a sua conduta no parlamento itabirano.
“O Ministério Público e a Polícia Civil já dispõem das informações e espero provar que a “caixinha” era mesmo para a festa de fim de ano”, disse ele, que não vê crime em sua conduta ao receber depósitos de assessores de seu gabinete.
“A pessoa que me acusa, usou essa “caixinha” para me chantagear, para que não ser demitida. Não cedi à chantagem. Foi uma ato de vingança”, classificou.
2 Comentários
Quando leio sobre estes “homens de Bem e de Honra”, sinto saudade do vereador Ailton Mendonça, porque essa câmara é tão ruim que qualquer outro serve. Nessa briga de dois direitista da ralé eu torço pela briga.
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