“Que rumor é esse na mata?
Por que se alarma a natureza?
Ai… É a moto-serra que mata,
Cortante, oxigênio e beleza.”
(Carlos Drummond de Andrade, em Mata Atlântica)
Por ordem da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, funcionários da Itaurb cortaram na quinta-feira passada (19/10) nove árvores que há anos foram plantadas na área verde existente na rua doutor Guerra, esquina com a rua Paulo Pereira, em frente do cemitério do Cruzeiro. A motossera cortou ipês rosa e amarelo, quaresmeiras, patas de vaca e um flamboyant com mais de meio século de existência.
Outras cinco árvores ainda sobrevivem ao corte, mas nelas foi assinalado um “X”, indicando que também estão marcadas para morrer. “Cortaram primeiro o flamboyant, uma árvore que já era adulta quando mudamos para cá, há 32 anos”, conta a moradora Sônia Mendonça, que juntamente com a vizinha Maria Marta Quintão Martins da Costa acionaram a Polícia Ambiental na tentativa de impedir que as outras árvores, marcadas para morrer com um “X” grafado em seu tronco, fossem também sucumbidas.
“Doeu no coração ver essas árvores cortadas. Elas estavam com saúde e não representavam nenhuma ameaça”, lamenta a vizinha, que junto com o marido Antônio Mendonça sempre cuidaram das plantas da área verde e de um jardim existente ao lado de sua residência.
O casal guardou pedaços do tronco do flamboyant. “É uma triste lembrança e serve também para comprovar que a árvore não tinha brocas e nem indicativos de que estava apodrecendo sem vida”, diz Mendonça. “As árvores estavam todas floridas. A acácia floriu pela primeira vez nesta primavera, era uma árvore jovem.”
Ordem veio de Priscila, disseram funcionários da Itaurb
Maria Marta conta que tentou que ao tentar impedir o corte das árvores, pediu que o encarregado apresentasse laudo técnico atestando que elas estavam para cair.
“Um senhor, de nome Nelson, esteve presente no local dizendo que era o responsável na Prefeitura para fazer os laudos técnicos. Ele nos disse que não havia emitido nenhum parecer favorável. Esse laudo não existe, foi crime ambiental”, protesta a moradora. “Os funcionários disseram que a ordem para cortar as árvores partiu da Priscila (Braga Martins da Costa, secretária de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente).”
Boletim de ocorrência
Presente no local depois de ser acionada pelos moradores, a Polícia Ambiental determinou que o corte das árvores fosse suspenso, uma vez que não foi apresentado até a presente data documento comprovando o mau estado fitossanitário das árvores, o que justificaria os cortes.
“Estamos aguardando a apresentação do documento”, informa o tenente Wellington Ribeiro Caldeira, comandante do 4º Pelotão da Polícia Ambiental e Rodoviária.
Segundo ele, se a Prefeitura apresentar autorização em conformidade com a legislação, não há empecilho para que se faça o corte de árvores. “Não tendo a autorização cabível, o boletim de ocorrência é encaminhado ao Ministério Público para que se tome as providências cabíveis.”
A autorização para o corte é dada pela mesma secretaria que dá a ordem de cortar, uma vez que o meio ambiente perdeu autonomia na atual gestão e passou a integrar subalternamente a Secretaria de Urbanismo.
Prefeitura diz que árvores representam risco à segurança pública
Por meio da assessoria de imprensa da Prefeitura, a secretária Priscila Braga Martins da Costa justifica o corte dizendo que as árvores estavam com “a saúde comprometida e podiam cair a qualquer momento, comprometendo a segurança pública”.
Disse ainda que o corte de algumas árvores é necessário para que a Prefeitura instale postes de iluminação pública no local.
A lei municipal 3.761, de 4 de fevereiro de 2003 é que regulamenta o corte de árvores na cidade. Foi promulgada pelo atual prefeito Ronaldo Lage Magalhães (PDT), que administrou a cidade pela primeira vez naquela época.
A lei, que “amplia e consolida a legislação ambiental no município”, determina em seu artigo 49 que é expressamente proibido a qualquer pessoa física ou jurídica fazer o corte ou a poda de árvores em logradouro público sem a prévia vistoria e licença da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Desde sexta-feira, a reportagem solicitou o documento técnico atestando o precário estado fitossanitário das árvores suprimidas. Até a presente data, nada foi apresentado.
“Essas não foram as primeiras árvores suprimidas pela atual administração. Cortaram outras árvores na antiga pracinha do Zoológico, na praça do Areão e na Esplanada da Estação”, lamenta a moradora Maria Marta.
Assim, sem uma forte pressão popular e imediata intervenção do Ministério Público, a motosserra que mata, cortando oxigênio e beleza, continuará com a sua sanha assassina em Itabira.
Itabira é uma das cidades menos arborizadas do país
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), Itabira dispõe de apenas 25,2% de suas vias públicas arborizadas.
Em decorrência, ocupa a 4.980º posição entre os 5.570 municípios brasileiros no ranking dos mais arborizados. Ou seja, somente 581 municípios no país contam com menos árvores no perímetro urbano que Itabira, a cidade que um dia já foi do Mato Dentro.
No estado de Minas Gerais ocupa a vergonhosa posição de 101º município menos arborizado. No ranking dos mais arborizados ocupa a vexamosa 752ª de cidade mais arborizada entre as 853 cidades mineiras. E na microrregião, é a 15ª mais arborizada entre os 18 municípios vizinhos. Com esses dados, fica evidente o motivo que levou Itabira perder o Mato Dentro do nome.
Para agravar a situação, a Prefeitura está “desafetando” áreas verdes na avenida Mauro Ribeiro, área nobre da Esplanada da Estação – e também no bairro Novo Amazonas (leia mais aqui e aqui).
Essas áreas, segundo justificativa das autoridades, serão leiloadas para o governo fazer “caixa” e executar obras de infraestrutura para construir apartamentos populares e também para dispor de recursos que servirão como contrapartida ao empréstimo do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) para a abertura da Avenida Machado de Assis, ligando os bairros João XXIII e Gabiroba.
Verde Novo
Não bastando esses dados sobre a irrisória área verde existente na cidade, tem-se ainda a agravar o quadro ambiental o fato de aqui coabitar a maior mina a céu aberto do mundo, localizada no perímetro urbano, embora oficialmente seja reconhecida como zona rural.
Em decorrência, Itabira sofre com a poluição do ar pelas partículas de minério em suspensão vindas das minas e que no período de estiagem encobrem a área urbana.
No início da década de 1980, para tentar minimizar esse impacto, a empresa Vale lançou um projeto chamado “Verde Novo”, prometendo plantar um milhão de árvores no perímetro urbano.
Foi um fracasso retumbante. Sobraram do projeto apenas algumas poucas centenas de árvores contorcidas, cujas mudas vieram refugadas da reserva florestal da mineradora que fica no município de Linhares (ES). As poucas menos de mil árvores que foram efetivamente plantadas cresceram ocupando passeios e atrapalhando a acessibilidade dos transeuntes.
A empresa também se comprometeu com a comunidade itabirana e com os órgãos ambientais de formar um cinturão verde entre as minas e a cidade como forma de diminuir a poeira. Do compromisso, sobram alguns poucos eucaliptos na estrada de 105 e que quase nada contribuem para conter as “partículas de minério em suspensão que saem das minas” para invadir a cidade e as vias respiratórias dos itabiranos.
8 Comentários
Vejam que rumo tomou essa política ambiental de Itabira, a mesma pessoa que autoriza é a mesma pessoa que manda cortar árvores nativas de nossa Mata Atlântica.
Pensava eu, ledo engano, que ipês, os rosas e os brancos, bem como os amarelos e os roxos, eram protegidos pela lesgislação ambiental nacional.
Isto aqui está virando terra de ninguém, principalmente por estarmos sendo governados por forasteiros.
O atraso de nossa sociedade, em especial com o respeito à natureza, me deixa pasmo.
Esse crime deveria ser pago com cadeia para os envolvidos.
A população tem que se mover! É crime ambiental, é desrespeito com a nossa saúde, com nossa qualidade de vida. É crime contra a vida!
Será que Itabira agora tem Monarquia e a secretária se tornou a “Rainha Louca”,mandando e demandando sem qualquer empecilho?
Como vai ficar este mundo para os nossos netos?Para as crianças deste País?
São pessoas sem noção,que vivem só o agora sem pensar no amanhã.Não deve ter famílias,
ou se tem não pensam nos mesmos.
Fico muito triste com tudo isto que esta acontecendo,esta falta de amor a vida,
Porque a natureza é VIDA.AR,ÁGUA E MATA!Tudo esta acabando.
A Praça do Areão está pelada. Quais os objetivos de tanto desmatamento? A Secretária tem que explicar publicamente a que veio. Ela precisa dar uma volta pela cidade e observar nossos passeios que precisam ser renovados. Nossos bueiros que exalam gases malcheiroso , devido à prática de esgotos clandestinos . Excesso de outdoors que contribuem para a poluição visual, ruas com cheias de desnível provocados por afundamento da via, matagal em lotes vagos, lixo esparramado pelas praças e outras coisas mais.
Interessados em denunciar crimes ou agressões ao meio ambiente podem entrar em contato com o serviço Linha Verde do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pelo telefone 0800-61-8080 ou pelo e-mail linhaverde.sede@ibama.gov.br. A ligação é gratuita de qualquer ponto do País e funciona de segunda a sexta-feira (exceto feriados), das 8h às 18h.
No site do Ibama também é disponibilizado um serviço para registro de ocorrências on-line. Para fazer a denúncia via internet (e/ou manifesto, reclamação, sugestão, informação) é preciso acessar a página específica do Instituto e preencher os dados corretamente.
Por telefone ou pela internet, cabe ao informante citar com clareza qual o tipo de crime que está ocorrendo, exemplo: cativeiro de animais, desmatamento, poluição, caça, acidente com produtos químicos, degradação de área, maus tratos de animais, queimada, contra servidores, irregularidades administrativas, pesca predatória, entre outros.
São indispensáveis dados precisos sobre a localização para o registro da denúncia.
Cabe ressaltar que dados cadastrais do informante (nome, telefone, endereço) são mantidos em sigilo, visando resguardar a sua integridade física e conforme garante o direito individual dos cidadãos em relação à inviolabilidade de sua intimidade.
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