Carlos Cruz
De tanto observar a alegria e o carinho do irmão Marcelo Lopes Machado, 38 anos, com as suas sobrinhas Elis, 9 e Ester, 5, e por amar tanto as filhas, a motorista Aline Lopes Monte-Mor, 35, decidiu emprestar a sua “barriga solidária” à cunhada Rafaela Nascimento Machado, 37, para gerar o filho dela, seu sobrinho.
Em outubro chega Guilherme, para alegria também do tio coruja, Juliano Monte-Mor, professor da Unifei, orgulhoso com a decisão de sua mulher, para quem o seu gesto de amor fraterno muito o emociona.
Como se espera que até outubro já tenha se passado a pior fase da pandemia com o novo coronavírus, a expectativa é reunir toda família Lopes Monte-Mor para comemorar a chegada de Guilherme.
O seu nascimento pode ser em Itabira, onde reside o casal com as filhas, ou em Coronel Fabriciano, onde mora a avó Cleuzeni Clementino Machado, em torno de quem a família se reúne para as festas de fim de ano. Mas Elis torce para que seja um itabirano.
Barriga solidária
“Decidi ser ‘barriga solidária’ por amor, para ver o Guilherme nascer. No início da gravidez eram dois, mas só o Guilherme decidiu seguir em frente”, conta Aline.
O irmão e a cunhada, para quem Aline está gerando o filho, moram em Canoas, no Rio Grande do Sul, mas eles se veem todos os dias pela internet. “A pandemia tem impedido deles virem a Itabira e só devem vir para o nascimento do meu sobrinho.”
A ideia de ser “útero substitutivo ou “barriga solidária” surgiu depois de a cunhada fazer vários tratamentos para engravidar e perder uma gestação de gêmeos.
“Eu mesma propus ser ‘barriga solidária’. No início, isso foi tratado com uma brincadeira, mas depois meu irmão me perguntou se era para valer. Respondi que sim. Desde o início Juliano apoiou a minha decisão.”
Juliano Monte-Mor não só apoiou, como se emociona com a forma altruísta de demonstração de amor e afeto. “Quando me perguntaram o que eu achava, respondi que a decisão era de Aline. Por mais que mude as nossas vidas, é ela quem sofre as transformações do corpo e com a questão psicológica”, considera.
“O que eu podia fazer era apoiá-la e ficar ao lado dela”, diz, feliz pelo gesto da mulher e resignado pelo fato de o casal ter desistido de tentar trazer ao mundo o filho Pedro, para completar a trilogia bem-amada com as duas filhas. “Que elas sigam o exemplo da mãe, como esposa, mãe, irmã e cunhada.”
“Sementinha”
Na primeira clínica que procuraram para fazer o procedimento não deu certo. Depois de passar por uma bateria de exames, a equipe médica achou que o embrião ia se perder pelo fato de que “a espessura endométrica não estava de acordo”.
Deram uma pausa até que no final do ano passado procuraram uma outra clínica, também em São Paulo.
No dia 1º de fevereiro deste ano foram implantados dois embriões. E Aline retornou para Itabira grávida, ainda sem saber que era de gêmeos. Pouco depois ela perdeu um dos embriões.
Com as idas e vindas de São Paulo, as filhas ficaram desconfiadas, mas ainda sem saber do que se tratava. “Eu estranhei a mamãe ter ido duas vezes a São Paulo e a gente sem saber de nada”, recorda Elis.
Como a barriga cresceu rapidamente chegou a hora de contar. “Falei para elas que a tia Rafa não podia ter o bebê e que o médico colocou a sementinha dentro da mamãe para ter o filho dela. Acrescentei que o bebê que estava na minha barriga não era um irmão, era um primo.”
Atenta à entrevista, Elis emenda, convicta: “É nosso primo-irmão.”
Realização
Mesmo sendo parente a condição legal para o “empréstimo”, toda a tramitação foi previamente acertada, com assistência de um advogado. “Assim que Guilherme nascer eu o entrego aos pais: ‘toma que o filho é de vocês’. E vou curtir e amar o meu sobrinho.”
Pela internet, toda a emoção é extravasada na forma de agradecimento, como postou recentemente a futura mãe Rafaela:
“Pois é, cunhada, quem diria que o destino iria nos reservar uma história tão linda. Um dia me disseram a palavra impossível. E algum tempo depois aprendi um pouco mais sobre a palavra amor…”
E prossegue: “Obrigada por deixar o Guilherme crescer dentro de seu ‘forninho”. Só nós sabemos de todos os obstáculos e dificuldades.”
O irmão Marcelo, comovido, também agradece: “Querida irmã, queria lhe dizer o quanto você é especial e como você fez toda diferença na minha vida. Obrigado por tudo que você está fazendo por mim”.
Sonho que se sonha junto
Para Aline, esse é um típico “sonho que se sonha junto e vira realidade”.
“Isso de ser ‘barriga solidária’ está sendo algo muito natural para mim. Desde o início sei que o filho não é meu.”
Aline conta ainda que a certeza de ter feito o que era certo ela obteve também ao ouvir o irmão dizer, emocionado, o quanto a amava.
“Ao ouvir isso de um irmão que queria tanto ter um filho, é um sentimento que não encontro palavras para descrever que não seja o amor.”
Essa certeza aumentou ainda mais quando Aline sonhou com o seu pai Esli Lopes Machado, falecido em julho de 2010.
“Sonhei com ele dizendo que estava satisfeito com tudo que eu estava fazendo. Acordei tão bem naquela manhã”, disse a tia, felicíssima com a chegada tão próxima do festejado Guilherme.
3 Comentários
Eu me emociono sempre qdo leio algo sobre esta história.
Penso ser realmente uma atitude corajosa, pois existem muitas transformações físicas e emocionais durante uma gestação. Conheço Aline, Juliano, Elis e Ester e sei que ali existe muuuito amor e essa atitude corajosa só é possível com amor incondicional.
Uma família com muito amor e união, que Deus abençoa que o Guilherme venha com muita saúde e que faça toda família muito feliz!!
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