Rafael Jasovich*
Vou reproduzir algumas declarações que irão confirmar a minha visão do desastre do governo e sua desconstrução.
Os generais que cercam Jair Bolsonaro começam a enquadrar o astrólogo Olavo de Carvalho, que tem sido apresentado como guru intelectual do clã presidencial. “Eu nunca me interessei pelas ideias desse senhor Olavo de Carvalho”, disse o general Santos Cruz, secretário de Governo, sobre os ataques que o guru da famiglia tem feito aos militares – em especial, ao vice Hamilton Mourão.
“Por suas últimas colocações na mídia, com linguajar chulo e palavrões inconsequentes, o desequilíbrio fica evidente”, criticou o ministro, para quem Olavo, que atua contra os interesses do Brasil, tem dito que os militares são “cagões” e defende que o Brasil se afaste da China e de outros parceiros comerciais, afirmou o ministro.
Em sua ida aos Estados Unidos, Bolsonaro fez questão de exaltar a figura de Olavo. “Um dos grandes inspiradores meus está aqui à minha direita, o professor Olavo de Carvalho, inspirador de muitos jovens no Brasil. Em grande parte devemos a ele a revolução que estamos vivendo”, declarou o eventual presidente. A cena, filmada, foi para as redes sociais.
O general Santos Cruz também criticou Steve Bannon, outro ídolo do clã. “Sobre o cidadão norte-americano Steve Bannon, eu só posso dizer que, para mim, ele nunca teve qualquer significado”, disse o ministro. “Eu só vi um comentário absolutamente inconveniente, que demonstra falta de preparo político e social e falta de noção de limites”, afirmou.
A paralisia do governo de Jair Bolsonaro, que diz repudiar a chamada ‘velha política’ e se mostra incapaz de articular uma maioria no Congresso Nacional, já leva caciques do parlamento a debater novamente a adoção de um regime parlamentarista.
A ideia deve ser levada ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que expôs a insatisfação do Congresso com a falta de empenho do Poder Executivo na questão da Previdência.
O acirramento do embate entre o Congresso e o governo Jair Bolsonaro reavivou a discussão sobre a implantação do parlamentarismo no Brasil. Deputados veteranos dizem que os recentes episódios confirmam a tese de que o modelo presidencialista se esgotou e não atende mais às demandas do país.
Afirmam, no entanto, que não dá para ‘trocar a roda com o carro andando’. A ideia é debater uma mudança de regime político que passe a valer a partir de 2022, com o fim da atual gestão.
“Qual é o projeto de um partido de direita para acabar com a extrema pobreza? Criticaram tanto o programa Bolsa Família e não propuseram nada até agora no lugar. Criticaram tanto a evasão escolar de jovens e agora a gente não sabe o que o governo pensa para os jovens e para as crianças de zero a três anos. O governo é um deserto de ideias”, disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Maia afirmou ainda que o Brasil não aguenta um dia de guerra contra a Venezuela e também criticou a influência dos filhos de Bolsonaro no seu (des)governo.
Por seu lado, Hamilton Mourão afirmou que as redes sociais não traduzem a opinião do governo, em referência a declarações recentes de um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro que provocaram um mal-estar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O vice-presidente defendeu ainda que sejam criadas pontes com o deputado; “Se por acaso o presidente Rodrigo ficou incomodado com isso, compete a nós do governo lançar aí as pontes e conversarmos com ele”, propôs.
Por essas declarações, conclui-se que a base (qual base?) do governo na câmara não existe. A “velha política” está ai escancarada com a formação de um ministério incompetente e fisiológico.
As elites estão tentando abandonar o barco e achar outra alternativa, como demonstraremos em um próximo artigo para este site Vila de Utopia.
Vai daí que o governo mal começou e já acabou.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional