Carlos Cruz
Faleceu na madrugada desta terça-feira (15), em Belo Horizonte, o arquiteto urbanista Radamés Teixeira da Silva, 96, vítima de um acidente vascular cerebral que o acometeu há dois meses. Ele era professor aposentado da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
As novas e atuais avenidas de Itabira, todas sem exceção, foram projetadas pelo arquiteto urbanista, que aqui aportou na década de 1960, tendo permanecido por muitos anos como consultor da Prefeitura, com um pequeno intervalo na década seguinte.
Retornou em 1983, a convite do prefeito José Maurício Silva (1983/88), que o trouxe de volta para dar continuidade ao projeto urbanístico que visava afastar a cidade das minas. E na Prefeitura ele permaneceu como consultor, aqui permanecendo até encerrar a sua trajetória na cidade do ferro, já no fim do governo de Jackson Tavares (1997/2000).
Uso e ocupação do solo
No início de 1995, a Câmara Municipal aprovou e o prefeito Olímpio “Li” Pires Guerra (1993/96) sancionou a nova lei do uso e da ocupação do solo, assim como o novo Código de Obras, ambos elaborados sob a coordenação do arquiteto urbanista.
Foi quando a legislação municipal liberou a construção de prédios de até 12 andares, desde que em largas avenidas, com largura acima de 20 metros e em lotes com mais de 700 metros quadrados.
Segundo ele contou em entrevista ao jornal O Cometa, em janeiro de 1996, a proibição de se construir prédios em Itabira com mais de quatro pavimentos, até então vigente, nada tinha a ver com as detonações da minas da Vale, que ainda hoje abalam as estruturas das frágeis construções do centro histórico e de tantas outras mais antigas mas não tão históricas.
“A proibição era por não comportar prédios nas estreitas ruas do centro. Já não faz mais sentido agora que Itabira tem avenidas mais largas e planejadas, permitindo o afastamento que a lei exige, com passeios também largos para os pedestres transitarem livremente. Os novos prédios terão de permitir boa ventilação, iluminação e a necessidade de espaços vazios entre um e outro”, prescreveu.
“Com a nova legislação teremos um ajustamento do zoneamento na cidade mais flexível para o desenvolvimento urbano, tendo o cidadão que aqui vive como alvo principal de sua atenção”, disse o professor em entrevista ao jornal O Cometa.
Trajetória em Itabira
Desde os primórdios, ainda na década de 1960, Teixeira procurou projetar novas avenidas que induzissem a expansão urbana para longe das minas.
Suas concepções, no entanto, custaram a ser compreendidas e implementadas pelos administradores locais. E muitos fizeram oposição às suas ideias.
Ele mesmo, na entrevista ao Cometa, brincou: “Diziam que eu queria levar o ginásio estadual para o brejo”, recordou o arquiteto, que foi quem projetou e definiu a localização da Escola Estadual Mestre Zeca Amâncio, inaugurada em 1968, edificada em cima de rejeitos de minério que assorearam o córrego da Penha.
São de sua autoria os projetos da avenida Carlos Drummond de Andrade seguindo até o final, já no bairro Praia. “Itabira deve crescer em direção à zona sul, com avenidas que expandam a cidade para os bairros Praia, Água Fresca, região do João XXIII, já aproximando do Distrito Industrial”, disse ele.
Para essa região, Radamés Teixeira projetou um conjunto de avenidas, como a Espigão, que só agora foi construída pelo prefeito Ronaldo Magalhães (PTB). “Será uma avenida no alto do espigão, quase plana e sem curvas acentuadas, com lotes acima de 600 metros quadrados”, descreveu.
“Nessa região Itabira vai ficar quase plana”, brincou o arquiteto, lembrando dos políticos que prometiam acabar com os morros e deixar só as descidas.
Mas uma de suas avenidas não chegou a ser executada e possivelmente jamais será. Trata-se da avenida Safena, nome que ele batizou pois, segundo explicou, teria a função de desobstruir as artérias cansadas do centro histórico.
“Vai sair da praça Acrísio, seguirá ao largo das casas da Esplanada, passando pela estação ferroviária (que ele propôs a sua desativação, como ocorreu anos mais tarde) até chegar na avenida Brasil, no bairro Amazonas”, projetou o visionário urbanista, que só teve parte de sua avenida Safena executada, com a abertura da avenida Mauro Ribeiro.
Repercussão
Para o engenheiro urbanista Altamir Barros, que com ele trabalhou por muitos anos na Prefeitura, o arquiteto foi sobretudo um professor. “Radamés foi o primeiro urbanista de Itabira. Ele dizia que para o itabirano a rua Tiradentes era o centro do mundo e que era preciso alargar os horizontes.”
Foi assim que ele projetou várias avenidas para descongestionar o centro histórico de Itabira, com as suas ruas estreitas abertas seguindo as curvas de nível, conta. Altamir também recorda do ambientalista Radamés Teixeira, com quem manteve contato até recentemente, em Belo Horizonte.
“Ele foi contra a construção de casas na Esplanada da Estação. Radamés achava que aquela área deveria ser devolvida ao povo de Itabira, com a construção de um parque municipal”, diz o engenheiro, para quem essa foi mais uma derrota incomparável de Itabira para a especulação imobiliária.
“Radamés pensava a cidade como um todo e sabia para onde a cidade deveria crescer”, diz o secretário municipal de Obras, Ronaldo Lott, para quem o arquiteto urbanista foi mais um itabirano de coração. “Itabira deve a ele uma grande homenagem.”
4 Comentários
Viva Radamés!
Todos nós itabiranos devemos a ele os novos horizontes abertos na cidade.
A ele e ao prefeito Daniel Grisolia.
A história do urbanismo em Itabira deve muito ao prefeito Daniel Jardim de Grisolia, quem foi que trouxe o Radamés para Itabira. Parece que foi assim, ou não?
Pingback: Vale obtém concessão antecipada de ferrovias. Mudanças devem ocorrer na malha ferroviária de Itabira - Vila de Utopia