Como sempre ocorre em Itabira, foi pequena a adesão de populares à manifestação realizada pelos sindicatos Metabase e de outras categorias contra as reformas trabalhista e da previdência, hoje à tarde (30/6) na praça Acrísio de Alvarenga. Mesmo em pequeno número, as poucas dezenas de manifestantes presentes no ato público, a maioria militantes e funcionários dos sindicatos, endossaram as palavras de ordem do Fora Temer e pelas Diretas já.
O pequeno público não é novidade nesse tipo de manifestação na cidade. Foi também reduzido na histórica campanha pelas eleições diretas de 1983/84. Enquanto em todo país o movimento ganhava força, Itabira não conseguiu reunir mais de 3 mil pessoas em ato público suprapartidário realizado no dia 14 de abril de 1984, em frente ao centro cultural, quando ainda era permitido realizar eventos no local, conforme registro do jornal O Cometa na edição de maio daquele ano.
Teve gente sobrando no palanque (o então senador Itamar Franco, prefeitos de Itabira e da região, deputados, vereadores, sindicalistas). Mas pouca gente se animou a sair de frente da tv para se manifestar pelo fim do regime militar e pelas Diretas já.
Otaviano Lage, jornalista e editor da sucursal mineira da Folha de São Paulo, ao cobrir a manifestação de Itabira, foi benevolente e contabilizou a participação de 5 mil manifestantes. Não havia isso tudo. E mesmo a presença de 3 mil almas registradas pelo O Cometa foi exagerada.
O Brasil todo pedia Diretas já. O fim da ditadura estava próximo. São Paulo reuniu mais de um milhão de manifestantes no encerramento da campanha. “Itabira fica devendo um comício pró-Diretas”, escreveu o jornalista Marcelo Procopio na mesma edição de O Cometa. A mesma edição registra também a derrota da emenda Dante de Oliveira, que restabeleceria a eleição direta para presidente.
Privatização da Vale
O dia 29 de março de 1997 foi um sábado histórico em Itabira. Enquanto os então prefeitos Jackson Tavares (PT) e Célio de Castro (PSB, de BH), mais o ex-presidente do PT José Dirceu e o ex-governador Aureliano Chaves denunciavam a privatização da Vale como crime de lesa-pátria, a então estatal promovia pela manhã, no centro cultural, palestra a favor da desestatização com o consultor alemão Wolfgang Sauer, ex-presidente da Autolatina, que reunia as duas maiores montadoras de automóveis do país.
Já o público presente na manifestação à noite contra a privatização não encheu a quadra de futsal que existia na esquina da avenida Carlos Drummond de Andrade com Irmãos de Caux. Também dessa vez Itabira ficou devendo um grande ato contra a privatização da Companhia, registrou o mesmo jornal O Cometa, na edição de abril de 1997.
Todos contra Temer
O presidente do Sindicato Metabase, Paulo Soares, minimizou o pequeno público presente hoje à tarde na praça Acrísio. “Existe a maioria silenciosa que já se manifestou contra Temer, que tem menos de 5% de aprovação”, disse ele, assegurando que as entidades organizadoras do evento já sabiam que o público seria pequeno.
“Decidimos marcar posição em nome da maioria silenciosa, que é claramente contra esse presidente que está sendo investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal por toda lambança que fez e está fazendo no país.”
Soares justifica também o pequeno público pelo fato do ato ter sido realizado no horário de trabalho. “Os sindicatos e as entidades entenderam a importância de marcar posição contra as reformas, neste dia nacional do Fora Temer. Decidimos fazer um ato de protesto contra a insistência desse senhor de permanecer na presidência mesmo tendo quase toda a população contra ele.”
A pequena participação popular no ato contra Temer e as suas reformas neoliberais só confirma a letargia do itabirano, que tem-se mostrado ao longo dos anos pouco afeito a lutar pelos seus direitos, conforme registra Carlos Drummond de Andrade na crônica Vila de Utopia:
“Tudo aqui é inerte, indestrutível e silencioso. A cidade parece encantada. E de fato o é. Acordará algum dia? Os itabiranos afirmam peremptoriamente que sim. Enquanto isso, cruzam os braços e deixam a vida passar. A vida passa devagar em Itabira do Mato Dentro.”
Difícil é mudar esse quadro histórico de paralisia que permanece nos dias de hoje.
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