Católico fervoroso, Geraldo “Pemba” Marques sempre fez questão de ressaltar que nada tem contra as outras religiões, é a favor do sincretismo religioso, com todo respeito.
O apelido ele “pegou” dos colegas de trabalho na mineradora Vale, da qual foi um dos primeiros a ingressar em seus quadros, em novembro de 1942.
Por sempre perder o embarque no “manda-brasa” (antigo veículo de transporte dos operários da mineradora) – e mesmo assim chegar antes de todo mundo na mina Conceição, onde trabalhava –, isso causava espanto em todos os seus colegas de trabalho, tamanha era a proeza.
“Geraldo só pode ser do pemba”, não se cansavam de repetir os seus colegas de trabalho. E o apelido pegou. Geraldo Marques não se aborrece com a alcunha, que remete, de fato ou ficção, a um ritual de magia negra, que ele passa longe.
“Sou temente a Deus e levo tudo na brincadeira”, não se cansa de repetir Geraldo “Pemba”, personagem de destaque do documentário Mapa da Mina, da TV Zero, patrocinado pela Vale, juntamente com a matriarca da comunidade quilombola do Morro de Santo Antônio, a dona Josefina, falecida aos 118 anos.
“O apelido saiu de Conceição, passou por Dois Córregos e, em pouco tempo chegou na cidade”, contou o homenageado. “Eu era jovem, corria à beça e cortava reto. Saia à galope, passava pelo Cônego Guilhermino, virava o Major Lage, ‘ataiava’ pelo Areão, passava por Dois Córregos até chegar em Conceição.”
Já na mina ele batia cartão e seguia antes de todo mundo para o pesado trabalho no carregamento. “Pegava o garfo de 12 pernas para jogar sem parar a hematita na carroceria do caminhão”, recorda.
Pessoa do bem
Por essa longa e aventurosa vida, Geraldo “Pemba” foi homenageado pelos vereadores na sessão de terça-feira (12). Por precaução, devido à pandemia, o centenário cidadão itabirano não compareceu à sessão para receber a homenagem. Foi representado pelos filhos Ricardo e Apolônio Marques.
A homenagem foi iniciativa dos vereadores Júlio “do Combem” Rodrigues (PP) e Leandro Pascoal (PSDB), realizada na forma de moção de aplauso pelo seu centenário.
“Geraldo Marques é uma pessoa de alma pura e um grande contador de caso”, ressaltou Júlio “do Combem”.
“Ele, ainda hoje, está sempre procurando ajudar as pessoas próximas. É uma pessoa que, também com o seu trabalho, muito contribuiu com Itabira”, acrescentou Leandro Pascoal.
O trabalho faz parte da vida de Geraldo Marques desde menino na roça, na antiga vila da extinta fábrica da Pedreira, onde nasceu em 18 de julho de 1920. Aos 18 anos, saiu para trabalhar em Barão de Cocais, numa pequena mineradora.
“Foi em Barão que eu ouvi dizer que uma grande empresa ia ser instalada em Itabira. Quatro anos depois eu já estava ‘fichado’ na Vale”, ele conta como boa recordação.