Um grupo de estudantes, autodenominado coletivo universitário Democratiza Unifei, organizou um protesto nesta quinta-feira (19), pela manhã, no exato momento em que o professor José Eugênio Lopes de Almeida, interino e ontem nomeado diretor do campus de Itabira, conversava com o reitor da Unifei, professor Dagoberto Almeida Alves. “Não tem democracia na escolha do diretor de Itabira”, foi uma das palavras de ordem dos estudantes na manifestação.
A nomeação pelo reitor, “no uso de suas atribuições legais, estatuárias e regimentais”, do professor José Eugênio e do professor Élcio Franklin Arruda para diretor e vice-diretor do campus, segundo colocados na consulta acadêmica realizada há cerca de um mês, foi o estopim para a manifestação.
Mas a escolha, atropelando a vontade acadêmica expressa na consulta, é só uma das muitas feições da crise universitária. Os desentendimentos entre alunos, professores e funcionários de Itabira com a reitoria de Itajubá tiveram início desde que foi proibida a realização de uma consulta sobre a proposta de dividir o campus local em unidades acadêmicas. Foi o que resultou na renúncia dos professores Dair José de Oliveira e Márcio Tsuyoshi Yasuda, ex-diretor e ex-diretor-adjunto (leia aqui e aqui).
“A nossa manifestação foi motivada pela nomeação do diretor e do vice que não foram os mais votados pela comunidade acadêmica. Mas isso foi só a gota d’água. O pano de fundo é a falta de democracia na Unifei”, explica uma estudante, participante do coletivo universitário, que pede para não ter o seu nome revelado, assim como fizeram todos os universitários ouvidos por este site.
Procurada pela reportagem, por meio da assessoria do campus de Itabira, a reitoria respondeu que não iria se manifestar agora. “Segundo orientações da Diretoria do Campus, informamos que não haverá pronunciamento dos gestores, o que será feito em um momento mais oportuno.”
Enquanto a diretoria não se manifesta, os estudantes exercem o direito fundamental de livremente expressar o que pensam diante de todo esse entrevero universitário. “Pela primeira vez na história da Unifei, o reitor que tem a prerrogativa da escolha, atropela a vontade popular para não cumprir o que foi decidido pela maioria em consulta pública.”
Demora tática
Segundo desconfiam os universitários, a demora de mais um mês para o reitor nomear o novo diretor, que deve tomar posse ainda hoje, se deu para que se desse tempo de aprovar o novo regimento disciplinar do corpo discente da Unifei. “Eles sabiam que haveria descontentamento por não ser respeitada a vontade da maioria. E proibiram manifestações dentro do campo”, afirma um dos líderes estudantis.
“Querem nos intimidar com advertências e até mesmo com ameaça de jubilamento (desligamento compulsório do aluno da universidade).” Sempre de acordo com os estudantes, o novo regimento disciplinar recém-aprovado contêm também cláusulas que proíbem, inclusive, os estudantes de manifestarem suas opiniões em redes sociais sobre o que está ocorrendo no campus da Unifei em Itabira. “Foi por temer retaliações que apagamos tudo o que postamos em nossas páginas na internet”, conta outra universitária.
Processos intimidatórios é arma da diretoria, dizem estudantes
Segundo a mesma estudante, intimidar alunos e professores faz parte da prática de imposição da vontade da reitoria. “Ele (Dagoberto) adora abrir processos administrativos. É a prática intimidatória que mais utiliza para tentar silenciar quem dele discorda”, afirma, para em seguida complementar:
“Fizemos um levantamento e constatamos que já existem mais de 100 processos acadêmicos abertos no mandato de Dagoberto. Desses, 85 já foram encerrados por falta de consistência”, conta a aluna.
Entre esses processos, vários são contra o professor Dair de Oliveira. “O ex-diretor está sendo acusado de abandono do cargo quando de sua renúncia e até de caluniar o reitor na carta-aberta que divulgou”, revela um funcionário da Unifei.
Placa da Unifei é encoberta
Ainda como parte do protesto, os estudantes encobriram uma placa existente no interior do campus universitário com a logomarca da Unifei.
“Eu estou sentindo vergonha de ser aluna de uma universidade que não respeita a vontade da maioria, que cerceia a nossa liberdade de expressão”, explicou uma aluna mais essa forma de protesto.
“Estamos vivendo um momento de profunda tristeza em nossa universidade. Até há pouco, aqui vivenciamos um ambiente democrático e tranquilo, de colaboração entre alunos, professores e direção. Hoje somos vistos com uma ameaça pela reitoria e por isso somos intimidados”, protesta outro estudante. “O regime disciplinar do corpo docente também é draconiano”, acrescenta.
“Se eles (a reitoria) estão convencidos de que fazem a coisa certa, porque o reitor não vem aqui dialogar com a gente”, pergunta outra estudante. “Não seria mais democrático, ao invés de proibir a livre manifestação aqui no campus? Dagoberto nos deve explicações. Que não seja por meio de cartas e memorandos”, é o mínimo que pede o coletivo Democratiza Unifei.
3 Comentários
Ao Editor do blog Vila de Utopia:
Bom dia. Sou procurador federal da UNIFEI, servidor da Advocacia-Geral da União (AGU) lotado nesta universidade, em seu campus sede. Sou responsável pelos pareceres em processos disciplinares no âmbito da UNIFEI. Venho a este site para rebater a informação dada e que lamentavelmente não foi checada pelo responsável pelo site Vila de Utopia.
Diz a matéria: “Segundo a mesma estudante, intimidar alunos e professores faz parte da prática de imposição da vontade da reitoria. Ele (Dagoberto) adora abrir processos administrativos. É a prática intimidatória que mais utiliza para tentar silenciar quem dele discorda’, afirma, para em seguida complementar: ‘Fizemos um levantamento e constatamos que já existem mais de 100 processos acadêmicos abertos no mandato de Dagoberto. Desses, 85 já foram encerrados por falta de consistência’, conta a aluna.”
A afirmação atribuída à estudante é FALSA.
O Reitor da universidade, na qualidade de autoridade máxima da instituição, tem, por dever de oficio previsto no art. 143 do RJU, abrir processos disciplinares contra servidores quando houver informação de violação de dever funcional. Esses processos disciplinares contra servidores são acompanhados e auditados pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Do mesmo modo, a norma interna estabelece ao Reitor a obrigação de instaurar processo disciplinar contra estudante que viola as normas da universidade.
A norma disciplinar aplicável aos alunos tem mais de 4 anos e, até a presente data, somente 2 (dois) processos foram instaurados pelo Reitor e somente um resultou em punição. Em ambos os casos, as denúncias envolviam problemas entre alunos.
Para que a verdade seja restaurada, solicito a publicação neste espaço, do esclarecimento acima.
Desde já agradeço.
Claudio José Freire Guimarães
Procurador Federal junto a UNIFEI
A informação não foi checada uma vez que a diretoria do campus não quis dar entrevista, solicitada por meio da assessoria de imprensa, conforme está registrado no texto: “Segundo orientações da Diretoria do Campus, informamos que não haverá pronunciamento dos gestores, o que será feito em um momento mais oportuno.” Mas fica o registro, assim como estamos abertos para esclarecer o que for preciso, desde que haja interesse da diretoria do campus local e da reitoria, inclusive sobre os processos disciplinares instaurados contra o professor Dair de Oliveira, sobre suposto abandono do cargo que teria sido ocasionado com a sua renúncia.
Para parafrasear o nosso querido reitor, meia verdade é uma mentira inteira. A norma pode estar presente há 4 anos mas foi modificada pouco antes da nomeação.