No sábado (31), a Vila de Utopia publicou o último trecho escolhido da série – Maria Julieta entrevista Carlos Drummond de Andrade. Faz parte do calendário nacional das comemorações, o Dia D do Instituto Morera Salles (IMS/Rio) e a Semana Drummondiana, da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), de Itabira.
Aqui na Vila de Utopia foram 31 dias com Drummond. As edições diárias formam um pequeno conjunto, variado, com unicidade e dialogando com o poeta e a filha Maria Julieta.
Nada de inédito foi publicado. Entretanto, a crônica Notícias elétricas é quase inédita, saborosa como o poema Bucólica no caminho do Pontal.
A série começou com Maria Julieta, como um presente ao aniversariante. A iconografia prestigiou ao máximo possível as produções de Itabira em homenagem a Drummond.
Também agradecemos as pessoas queridas: a Graça, irmã da Ana Lima que nos chamou no curé – e nos acudiu – para erros de português de fazer gemer de dor o portuga Camões e o afro brasileiro Machado de Assis. Ah! Gracinha você também é eterna.
Agradecemos também ao Bitinho Norberto de Jesus, que traz a Itabira a presença de Sá Maria na vida do poeta – o que considero importante por ser uma mulher negra e empregada doméstica – que insistiu para que eu achasse a crônica Menino de Itabira, assinada pelo português Domingos Carvalho da Silva.
Ao Eduardo Cruz e Mauro Andrade pelas fotografias. Ao Memorial Carlos Drummond, de Itabira, que atendeu prontamente às solicitações de pesquisa. Foram essas pessoas que contribuíram para a celebração do aniversário do poeta, preparada especialmente para o leitor da Vila de Utopia.
Agradecemos. E seguiremos “batendo palmas de contentamento” para Carlos Drummond de Andrade, um grande cidadão brasileiro. E para fechar mesmo, um poema do amigo mineiro do poeta, Abgar Renault. (mcs)
O poema sonhado e não escrito
Abgar Renault
Meu remoto Carlos Drummond de Andrade,
eras alto demais, de luz tão nova!
Nem no sonhado poema tu couberas:
por belo que o sonhasse, que vulgar
seria para a tua raridade!
Este que agora escrevo, escasso e débil,
tem uma rima uma rima só, a rima em ade,
mas claro pronuncia em sons e cores
o teu nome, Carlos Drummond de Andrade,
que encerra toda a tua dupla origem:
a alva Escócia de gelo e Portugal,
Portugal das marítimas distâncias
a tanger sua lira de saudade.
Julieta longe e em ti jamais ausente
viajaste brusco a procurar, ó triste,
tristíssimo Carlos Drummond de Andrade,
cavalgando infinita soledade
e esquecido de tudo em que viveste:
a tua Itabira na velha Minas,
o teu meio sorriso em verso amargo,
teus papéis, lápis, livros, os minutos
em que te amou a tua mocidade.
Eu aqui estou, o teu amigo de antes
e de depois, andando, desandando,
em busca de uma indefinida nuvem,
para abraçar no tempo fugitivo,
ó meu morto Carlos Drummond de Andrade,
a tua subterrânea eternidade.
[O poema sonhado e não escrito, Abgar de Castro Araújo Renault, Barbacena, 1901-1995. Diário do Pará (PA), 19/2/1988]
“Abgar Renault figura numa antologia de poesia moderna como poderia figurar – se tivesse idade provecta – numa antologia dos últimos parnasianos. Não esquecer que começou modelando “sonetos antiguos”, num tempo em que Bilac apenas se despedia com a Tarde e a poesia chamada modernista era apenas um poema de Manuel Bandeira no Malho: “Quando perderes o gosto humilde da tristeza…” (Carlos Drummond de Andrade “O Pessimismo de Abgar Renault”- Confissões de Minas, 1944 apud “Obra Poética”, cit.).
Carlos Drummond de Andrade (Itabira do Mato Dentro, 31 de outubro de 1902 – Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987)