Lenin Novaes
Já desde o início deste ano, estimados leitores do Vila de Utopia, amigos me pedem para falar sobre a Revolução Socialista na Rússia, ocorrida em 1917 e, que, neste ano de 2017, completa 100 anos. A data histórica da revolução realizada pelos bolcheviques tem como marco o dia 7 de novembro (25 de outubro no calendário juliano) e mostrou para o mundo um sistema político real que garante a igualdade, a fraternidade e a justiça, essencial à vida e prosperidade da humanidade.
E por que me pedem para falar sobre aquele evento histórico? Qual a ligação/relação com aquele acontecimento? Bem, é que tenho Lenin no pré-nome de batismo, pseudônimo de Vladimir Ilyich Ulyanov, revolucionário comunista, político e teórico russo, como é conhecido no mundo. Segundo alguns historiadores, o pseudônimo tem origem à época na qual ele viveu um dos mais simbólicos exílios, junto ao rio Lena, sendo, então, apelidado de Lenin – o homem do rio Lena.
Não me cabe – isso fica por conta de historiadores – análise sobre um dos principais líderes da Revolução Socialista. Mas, creio, não por acaso, aqui no Vila de Utopia – prestar depoimento à trajetória de vida sob o nome que, se me carimba a testa, me orgulha de ser filho de um dos milhões de seguidores dos ideais de Lenin, no mundo, num processo de luta contra a exploração do homem pelo homem. E a luta continua, pois o sonho não morreu. E para conhecer tudo sobre Lenin sugiro a leitura de biografias enfocando seu perfil, livros e o legado político ideológico.
No Rio de Janeiro, de Tororó, bairro da Capital Salvador da Bahia, chegou meu pai, ainda adolescente, como muitos imigrantes das Regiões Norte e Nordeste do país. Veio à procura de oportunidades por melhores condições de vida na Capital da República. Desde sempre assim sempre foi, pois, afinal, era onde se concentrava o capital e a política. E de Córregos, distrito do Município de Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais, veio minha mãe, ainda guria. Ambos sonhando o mesmo sonho sonhado.
Viveram a sua época lutando para realizar o sonho. E, como herança, deixaram para os cinco filhos o vigor, a chama acessa da luta. Desde jovem o pai entrou para a militância do Partido Comunista Brasileiro – PCB. Nas folgas do árduo trabalho no Caís do Porto mergulhava nas atividades e nas reuniões clandestinas do Partido. Na militância partidária – gostava de dizer que na época dele aos 16 anos as pessoas se colocavam à vida política – se dedicou também à defesa da cultura afro-brasileira. Foi um dos fundadores, diretor artístico e coreógrafo do Teatro Oxumaré da Escola do Povo. Contracenou com Maria Della Costa e, no Teatro Popular Brasileiro foi assistente de Solano Trindade. Atuou no filme documentário Magia Verde. Colaborou na organização do Teatro Folclórico da Federação da Juventude Brasileira. Pintou quadros a óleo, em estilo primitivo, focalizando figuras de rituais afro-brasileiros. É o ator que simboliza o personagem político em Rio 40 Graus, me disse o diretor Nelson Pereira dos Santos, por ocasião das comemorações dos 50 anos do filme.
À mãe – minha reverência maior – coube à tarefa de cuidar das necessidades essências à vida dos filhos, devido a ausência do pai, muitas vezes na prisão ou em missões partidária em outros estados. Artesã na arte da costura varava madrugadas confeccionando calças, camisas, blusas, shorts e, inclusive, vestido de noiva, numa máquina inglesa manual. Era a ajuda que dava às despesas centradas na cabeça do casal.
Na doce linguagem e afável relação com os filhos, tinha inquebrável equilíbrio emocional. Num dos retornos de culto na Igreja Batista, que acontecia às noites de quartas-feiras e, pela manhã, aos domingos, revelei a ela a minha preocupação em ter de andar da igreja até em casa. Tinha uns 11 anos de idade. E me disse o seguinte: “Filho, nunca fuja de uma sombra sem antes entender o que a sombra representa”.
Essa a mensagem explodiu na minha cabeça quando ela faleceu, vítima de acidente de ônibus, antes de completar 40 anos. A mensagem, permanentemente, constantemente, tem norteado meu equilíbrio emocional no dia-a-dia. E recordo quando deixei o internato em Jacarepaguá para vê-la – sempre fins de mês – e fui parar no Município de Itaguaí, por engano. Na estação de Santa Cruz, à tarde, embarquei em trem contrário a estação Lauro Muller, de onde seguiria em outro trem para a Penha. E aí tive de retornar a pé pela linha do trem de Itaguaí à estação de Santa Cruz, junto com dois colegas. Ao contrário de uma bronca, ela levou minha cabeça ao colo e disse: “Como é bom tê-lo aqui são e salvo”. Tinha uns 12 anos e, quando sai do internato, me aventurei a ir num sítio em Santa Cruz. E aí cheguei de madrugada em casa, com uma jaca nos braços que já não aguentava carregar.
Primogênito, aos 14 anos, a situação de vida nada fácil, obrigou-me a conciliar estudos com o trabalho. Do ofício de tecelão, em máquina manual de tecelagem, com duas placas, numa confecção, tempos depois estava num escritório de contabilidade de uma renomada indústria de cervejas, Foi uma mudança significativa: troquei a remuneração salarial por produção por alguns salários mínimos, fazendo escrituração de notas fiscais.
No imenso salão da contabilidade, do setor fiscal, via o contador em uma enorme cadeira de encosto alto, girando de um lado para o outro, num “aquário”. Uma minúscula sala dentro do salão. Até então não tinha ideia da grande quantidade de bares, botequins e lanchonetes na Guanabara. Era muita nota fiscal a ser escriturada nos livros e, isso, exigia horas extras de trabalho. Apresar das boas condições no ambiente de trabalho, com gravata e camisa social, refeições em ala vip do restaurante, pedi demissão, alguns meses depois. De nada valeu o apelo dramático dos amigos que me levaram à empresa e me estimulavam a fazer Ciências Contábeis. Não perdoaram e, brincando, claro, diziam: “você vai ficar na rua da amargura”.
Havia cumprido o tempo de serviço militar obrigatório, no Exército, recentemente àquela época. Na minha apresentação no Batalhão de Carros de Combate, um dos oficiais quis saber se tinha sido meu pai ou minha mãe que me colocara o nome de Lenin. Era 1968 e compreendia o que acontecia no país, mas não tinha militância profunda. Acompanhei saques às mercearias, em 1964, e às pichações ABAIXO A DITADURA em muros, anos seguidos. Nos bailes de Ed Lincoln fiquei amigo do França, que me levou à primeira reunião partidária.
E, no interrogatório do oficial, que perguntou ainda quais as pessoas que frequentavam minha casa, respondi que a escolha do meu nome era uma questão de ordem pessoal. Falei da minha condição de arrimo de família e ele me disse: “você é daqueles que tem a obrigação de servir o Exército Brasileiro”. Ou seja, defecou e mandou para o expediente administrativo que desobriga do serviço militar a pessoa que ajuda no sustento da família.
Menos de dois meses no quartel já tinha passado por três pernoites, não cumpridos – punição por ausência à formatura matinal – e sentenciado a 30 dias de cadeia, por faltas seguidas. O oficial comandante da companhia que tinha formação nas Agulhas Negras falava em expulsão. Outro, formado no CPOR – Centro de Preparação de Oficiais da Reserva – , providenciou a minha transferência para estabelecimento laboratorial militar, dizendo que assim me livrava de ser banido, expulso.
A produção de um jornal/folhetim mimeografado, com o título de O Invisível, distribuído na calada da noite, sem periodicidade constante e feito com amigos, serviu de ponte para chegar à redação do Correio da Manhã, no final da década de 1960. Além da brincadeira na produção do folhetim, na adolescência, tínhamos atividades como organizar bailes, peças de teatro e programas de rádio, num clube do bairro. E o parceiro de todas as artes era o amigo – irmão Jorge Elias de Barros Sobrinho, que chegou ao Correio da Manhã e, depois, me arrastou.
Adentrar a redação do jornal foi impactante, com a sensação de estar num lugar inimaginável. De tudo até então visto e vivido senti que tinha me encontrado. Lá estavam as maiores expressões do jornalismo. O jornal dava ênfase à informação em detrimento da opinião e se caracterizou por fazer oposição a quase todos os presidentes no período, sendo perseguido e fechado em diversas ocasiões, e os seus proprietários e jornalistas, presos.
Lá, Lima Barreto se inspirou para compor as peripécias jornalísticas do personagem Isaías Caminha na obra Recordações do Escrivão Isaías Caminha. Também lá estiveram Otto Maria Carpeaux, Ledo Ivo, Renard Perez, Antônio Callado, Carlos Drummond de Andrade, Márcio Moreira Alves, Holoassy Lins de Albuquerque, Lago Burnett, Vicente Piragibe, Rodolpho Motta Lima e o crítico Antônio Moniz Vianna, entre outros. Em 14 de outubro de 1966 o jornal publicou crônica de Drummond sobre a música A Banda, de Chico Buarque, em tom de crítica a ditadura militar.
Circulei por várias outras redações de jornais, depois: Última Hora, O Fluminense, O Globo, Diário de Notícias, Cadernos do Terceiro Mundo, O Estadão e TV Globo, entre trabalhos em Assessorias de Imprensa. Das comissões de base sindical nas redações fui eleito à diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro – SJPMRJ. E exerci cargos na Associação Brasileira de Imprensa – ABI –, principalmente nas gestões do saudoso amigo Oscar Maurício de Lima Azêdo, depois da morte de Barbosa Lima Sobrinho.
Intercâmbio entre a ABI e a União de Periodistas de Cuba, nos anos 1980, entidade que tinha na presidência Ernesto Vera Mendez, me levou a viver uma temporada em Cuba. Nas reflexões que fazia – até o Brasil, naquela época, e demais país da América Latina, com exceção do México, não tinham relação diplomática com Cuba –, nas instalações do Instituto Internacional de Periodismo José Martí, fiquei convicto de que o sistema político socialista permite vida saudável e paz à humanidade.
Para chegar a Cuba, em viagem clandestina, passei pelo Peru, tendo na presidência Alan Gabriel Ludwig García Pérez, com 35 anos de idade, enfrentando dificuldades de todo tipo. A miséria era incomparável à miséria no Brasil. Miséria é miséria, não é mesmo, seja onde for. Era terra arrasada pelo capitalismo. Peguei o visto e continuei viagem para Cuba, ficando em trânsito por quatro dias no Chile. Lá, o general Augusto José Ramón Pinochet Ugarte mantinha a ditadura com truculência desmedida – truculência tem medida? – , depois do golpe que levou à morte Salvador Allende Gossens, em 11 de setembro de 1973. Médico e político marxista, ele criou o Partido Socialista e governou o Chile de 1970 a 1973.
Vi parte da população chilena amordaçada, mas, vi as manifestações dos estudantes e trabalhadores enfrentando as forças militares golpistas. E, também, naquele país, contei com o apoio e solidariedade dos defensores do socialismo. Até chegar a Cuba passei, ainda, pelo México, dias após do terremoto de magnitude 8,1 na escala Richter que causou a morte de mais de 10 mil pessoas e cinco mil desaparecidas.
Da chegada a Cuba, onde fiquei baseado em Vedado, belo e vibrante bairro histórico em Havana, até a volta ao Brasil, foi um período de experiências políticas experimentadas nos dois lados da moeda. Devido às atividades profissionais e a militância deixei de ir à Nicarágua, a convite do governo de José Daniel Ortega, um dos líderes da Frente Sandinista de Libertação Nacional – FSLN.
E, como dizia o saudoso João Saldanha, uma das boas recordações no PCB, no dia-a-dia da redação do jornal Última Hora e na diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro – SJPMRJ -: “Vida que segue”.
Lenin: uma vida dedicada à Revolução
Lenin foi, sem sombra de dúvida, a maior figura histórica do século XX, por ter sido a principal liderança da Revolução de Outubro de 1917 na Rússia, o acontecimento que abalou as estruturas da sociedade capitalista, ao inaugurar a primeira grande experiência socialista no mundo. Era o exemplo que faltava aos trabalhadores de todos os países para animar as lutas contra a exploração capitalista e em favor da alternativa socialista.
Vladimir Ilitch Ulianov, codinome Lenin, nasceu em 1870, em Simbirsk, no coração da Rússia. Os pais de Lenin eram professores e tiveram seis filhos, dos quais os cinco que sobreviveram, criados em meio à feroz repressão da década de 1870 na Rússia dos czares, tornaram-se revolucionários quase que automaticamente. O irmão mais velho, Alexandre, foi um ativista radical que se envolveu na trama para assassinar o Rei Alexandre III e morreu executado aos 19 anos de idade. Lenin tinha posição formada contra os métodos terroristas: “Não, não é esse o caminho que devemos seguir”.
Formado em Direito e vivendo em São Petersburgo, uniu-se a um grupo de intelectuais marxistas e participou da criação do Partido Social-Democrata (antiga denominação dada aos partidos operários) na Rússia. Perseguido pelo regime, foi exilado na Sibéria, onde conheceu e casou-se com Nadezhda Krupskaia, professora e militante revolucionária, também condenada ao exílio. Em 1900, o casal partiu para a Suíça, onde arranjou meios para publicação de um jornal clandestino, o Iskra, A Centelha.
Em 1903, realizou-se, fora da Rússia, o congresso do POSDR, no qual ocorreu a divisão entre bolcheviques (maioria), defensores da luta revolucionária contra o capitalismo, e mencheviques (minoria), que entendiam ser possível chegar ao socialismo por meio de reformas no interior do sistema capitalista. Líder da facção bolchevique, Lenin voltou a São Petersburgo durante a revolução popular de 1905, momento em que surgem os Sovietes, organizações de luta formadas pelos operários, camponeses e soldados. Mas, derrotado o movimento, Lenin foi obrigado a se exilar novamente.
Durante este período, Lenin publicou Materialismo e Empiriocriticismo (1909), livro que aborda questões de ordem filosófica, atacou o reformismo da II Internacional e se opôs à participação dos trabalhadores e camponeses na Grande Guerra, iniciada em 1914. Escreveu Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo, descrevendo as características da nova etapa de desenvolvimento do capitalismo, marcada pela formação dos monopólios, pelo papel destacado do capital financeiro e pela disputa acirrada entre os interesses das grandes potências, na busca por novos mercados, em meio ao processo de expansão mundial do capital.
1917: o ano revolucionário
Lenin retornou à Rússia em abril de 1917, após a Revolução de Fevereiro, quando grandes manifestações populares, desencadeadas a partir da greve das operárias tecelãs, derrubaram Nicolau II. A ditadura dos czares foi substituída por um governo provisório, formado pelos partidos burgueses, com apoio dos mencheviques e “socialistas revolucionários”, grupos reformistas que dominavam os sovietes. O governo manteve o país na Guerra Mundial, aprofundando a miséria e a fome do povo, ao preferir garantir os acordos com os imperialistas ingleses e franceses do que fazer valer a vontade popular.
Em 16 de abril (3 de abril no calendário gregoriano), Lenin chegou à Estação Finlândia, em São Petersburgo. Suas Teses de Abril acabavam de sair do forno: nelas, defendia abertamente que os bolcheviques começassem a organizar a revolução socialista. A partir daí, enfrentou resistências dos que não acreditavam nesta possibilidade e liderou os bolcheviques na preparação para a nova etapa da revolução, deixando claro que o poder soviético deveria significar uma mudança radical no exercício de governo. Era preciso derrubar todo o velho aparato de Estado, substituindo-o por um aparelho verdadeiramente democrático, a ser controlado pela maioria organizada e armada do povo.
Entre maio e outubro, os bolcheviques assumiram a dianteira das lutas contra o governo burguês e as forças reacionárias, conquistando o apoio dos sovietes para a Revolução Socialista. Vitorioso, o movimento tirou a Rússia da guerra, decretou a reforma agrária, nacionalizou os bancos e as empresas estrangeiras. Em seguida, Lenin liderou o governo bolchevique no combate à guerra civil provocada pelas forças conservadoras, com apoio das potências imperialistas (Inglaterra, França, Estados Unidos e Japão), até 1921, vencida pelo proletariado russo. Comandou a NEP (Nova Política Econômica) para tirar o país das condições de extrema miséria em que se encontrava. Vários acidentes vasculares cerebrais o prejudicaram, levando-o à morte em 21 de janeiro de 1924.
A teoria a serviço da revolução
A biografia de Lenin está diretamente ligada à luta política contra o reformismo no interior do movimento socialista mundial. Em Que Fazer?, publicado em 1902, ele já havia apontado, de forma categórica, a opção pelo caminho revolucionário contra a colaboração de classe praticada pela socialdemocracia. E destacou a necessidade e uma organização revolucionária, o Partido Comunista, para “ir a todas as classes da população”, fazendo o papel de propagandista, agitador, educador e organizador da luta proletária, expondo a todos os trabalhadores e às camadas populares os objetivos gerais do programa socialista.
Outra obra essencial é O Estado e a Revolução, escrita em agosto e setembro de 1917, às vésperas da revolução bolchevique. Lenin sistematizou as ideias de Marx e Engels sobre o Estado capitalista e a ditadura do proletariado, buscando atualizar a sua aplicação na luta política em tempos de expansão capitalista e imperialista. A consolidação do capitalismo monopolista e do imperialismo representou um retrocesso nas práticas democráticas conquistadas em vários países, resultantes das intensas lutas operárias travadas ao longo do século XIX. Ao caracterizar o Estado como instrumento a serviço do grande capital, Lenin projetou a tendência, hoje cada vez mais evidente, da total incompatibilidade entre a ordem capitalista e a democracia.
A Internacional Comunista
Após a Revolução de Outubro de 1917, o movimento socialista internacional acreditou que a ruptura histórica com o capitalismo estava na ordem do dia e que uma nova onda revolucionária iria varrer o mundo. Com o objetivo de organizar a revolução mundial, em março de 1919, realizou-se, em Moscou, a convite dos bolcheviques, o Congresso de fundação da III Associação Internacional dos Trabalhadores, também chamada de Internacional Comunista (IC) ou Komintern, constituída por representantes de numerosos pequenos grupos revolucionários europeus, aqueles que em seus países haviam rompido com a social-democracia, dando início à formação dos partidos comunistas. Mas o contexto internacional era de refluxo do movimento operário e socialista e de derrota de lutas populares e tentativas revolucionárias na Alemanha, na Áustria, na França, na Hungria, na Itália.
No III Congresso da IC, realizado em 1921, com base em seu texto Esquerdismo, doença infantil do comunismo, Lenin passou a reconhecer que a onda revolucionária havia regredido, centralmente na Europa, daí a necessidade de um trabalho dos comunistas no interior dos sindicatos dominados por direções reacionárias, além da participação nas eleições instituídas pelo calendário político democrático-burguês, tendo em vista a conquista de cadeiras, pelo movimento operário, nos parlamentos dos países capitalistas. Era preciso “trabalhar obrigatoriamente onde está a massa”.
Lembrava Lenin que os bolcheviques necessitaram de quinze anos para se preparar como uma força política organizada para a conquista do poder na Rússia, afirmando que a vitória sobre a burguesia seria impossível sem uma “guerra prolongada, tenaz, desesperada, de vida ou de morte; uma guerra que exige tenacidade, disciplina, firmeza, inflexibilidade e unidade de vontade”. Por isso, não bastaria a ação isolada da vanguarda, nem um trabalho voltado apenas à agitação e à propaganda, pois somente através da própria experiência política das massas seria possível desenvolver táticas eficazes de mobilização popular no enfrentamento às classes dominantes.
Para os revolucionários e trabalhadores conscientes da necessidade de destruir a ordem capitalista e construir o socialismo, há a certeza de que o legado político de Lenin se mantém como um guia indispensável para a ação transformadora. As ideias de Lenin e a Revolução Russa de 1917 marcaram a ferro e fogo todo o século XX.
(Artigo publicado no Boletim Poder Popular, do Partido Comunista Brasileiro, edição nº 26, em 21/10/2017).
4 Comentários
parabéns por essa linda matéria, jornalisticá, a partir de agora serei um fiel leitor, muito obrigado por esse excelente exemplar.
Camarada Lenin, que não é o Vlady, a sua história pessoal é forte e bela e significa a possibilidade de futuro proas novas gerações. Mas para completar, apenas mencionando um nome que talvez você possa escrever sobre ele, o bolchevique anarquista Victor Serge, a mais bela história da Revolução. O pai (Terra e Liberdade), revolucionário e médico, evadiu-se pro Brasil e aqui viveu. No momento que o bicho tava pegando na luta armada, Serge envia o filho Vlady pra Cidade do México. Acolhido pelo artista Diego Rivera, Vladímir Rusakov, o Vlady fincou vida e obra no país. É dele o mural, La Revolución y los Elementos (1972), na parede da grande sala de leitura da Biblioteca Nacional do México. Obrigada pela sua história e se puder escreva sobre Serge.
E Viva os Lenis!
Amigo, não tirei os olhos do artigo, esclarecedor. Um verdadeiro passeio pela realidade daquele que a viveu. Triste constatar que as massas continuam empurradas pelos ventos das ilusões e vidas miseráveis permanecem sendo sacrificadas no altar do capital para o benefício de tão poucos. Tenho dito que o capitalismo, diabolicamente, consegue extrair o pior do ser humano. Sigamos lúcidos, embora a lucidez pareça ser uma maldição… Que sua pena cibernética continue a prestar esse maravilhoso serviço… Um forte abraço.
Muito bom camarada Lenin Novaes, meus parabéns!