*Athaliba dos Anjos
Anthony Garotinho e sua mulher Rosinha Garotinho, ambos do PR e ex-governadores do Rio de Janeiro, foram presos 22/11, acusados, ao lado de outras seis pessoas, de integrar organização criminosa que arrecadava recursos de forma ilícita com empresários com a finalidade de financiar as próprias campanhas eleitorais e a de aliados, inclusive mediante extorsão. Eles se juntaram na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, a Sérgio Cabral Filho, também ex-governador do Rio. E lá estão presos ainda um ex-presidente, o atual presidente e o líder do governo na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), os deputados do PMDB Paulo Melo, Jorge Picciani e Edson Albertassi, respectivamente.
A deputada federal Clarissa Garotinho (PR), filha de Anthony e Rosinha, disse à imprensa temer pela segurança do pai, pois “ele foi colocado na cova dos leões e esse pessoal (referindo-se a Sérgio Cabral, Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo) é bandido mesmo”.
Foi Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da empresa JBS, em delação premiada, que revelou uma das pontas do esquema, em depoimento na Superintendência da PF no Rio, no dia 24 de agosto. Ele disse ter repassado R$ 2,6 milhões, via caixa dois, à campanha de Garotinho em 2014, quando candidato a governador. Saud contou que o dinheiro da JBS fazia parte de um montante de R$ 20 milhões usados pela empresa para comprar o apoio do PR ao PT na eleição de 2014.
Não relacionados à operação Cadeia Velha, Garotinho e Rosinha são acusados ainda de corrupção passiva, extorsão, lavagem de dinheiro e pelo crime eleitoral de omitir doações nas prestações de contas. Há ainda mandado de prisão contra o ex-ministro dos Transportes Antônio Carlos Rodrigues, presidente nacional do PR. A investigação aponta que ele intermediou o repasse ilícito à campanha do ex-governador em 2014.
O Ministério Público Eleitoral assinalou no pedido de prisão que a organização criminosa ainda está em atividade, tentando obstruir as investigações e intimidar testemunhas. Os mandados de prisão foram expedidos pelo juiz Glaucenir de Oliveira, titular da 98ª Zona Eleitoral de Campos dos Goytacazes, na Região do Norte Fluminense.
O esquema, segundo o MP, funcionou nas eleições de 2010, 2012, 2014 e 2016. A conexão com a JBS foi revelada por Saud e por outro delator, o empresário André Luiz da Silva Rodrigues. Ele é sócio da Ocean Link, empresa que assinou um contrato de fachada com a JBS, mecanismo encontrado pelo grupo para que o dinheiro chegasse à campanha de Garotinho. André, dono de outra empresa que mantinha contratos com a Prefeitura de Campos, então tendo como prefeita Rosinha Garotinho, contou que foi avisado do depósito pelo policial civil aposentado Antônio Carlos Ribeiro da Silva, conhecido como Toninho, apontado como um dos operadores financeiros de Garotinho.
O empresário revelou que Toninho foi a sua casa e, armado com duas pistolas, pediu a ele que sacasse os R$ 2,6 milhões em espécie no banco. Como o valor era alto, André sacou os recursos em mais de um dia, cerca de R$ 500 mil por vez. No decorrer da investigação, Renato Barros Damiano, funcionário do banco que presenciou alguns dos saques, disse à Polícia Federal que foi procurado pelo policial com o objetivo de saber se ele tinha contado algo aos investigadores e se tinha informação sobre uma possível colaboração de André com as investigações. Assim, para o MP, é outra prova de que Garotinho e seu grupo tentavam obstruir a Justiça.
André Luiz contou ainda que colaborou, por meio de caixa dois, com as campanhas de Anthony Garotinho a deputado federal, em 2010; de Rosinha à reeleição na Prefeitura de Campos dos Goytacazes, em 2012; e com candidatos a vereadores aliados em 2016. Ano passado, André disse que foi procurado pelo ex-subsecretário de Governo Thiago Godoy com o pedido de doação de R$ 900 mil. A contrapartida seria a liberação de recursos que o município devia ao empresário. Então repassou R$ 600 mil, em espécie, e recebeu R$ 2,3 milhões pagos pela prefeitura, em dívidas referentes a serviços já executados.
A assessoria de Garotinho publicou nota no blog do ex-governador afirmando que ele atribui a operação que o prendeu a mais um capítulo da perseguição que vem sofrendo desde que denunciou o esquema do governo de Sérgio Cabral na Alerj e as irregularidades praticadas pelo desembargador Luiz Zveiter. Eis a nota oficial:
“O ex-governador Anthony Garotinho atribui a operação de hoje a mais um capítulo da perseguição que vem sofrendo desde que denunciou o esquema do governo Cabral na Assembleia Legislativa e as irregularidades praticadas pelo desembargador Luiz Zveiter.
O ex-governador afirma que tanto isso é verdade que quem assina o seu pedido de prisão é o juiz Glaucenir de Oliveira, o mesmo que decretou a primeira prisão de Anthony Garotinho, no ano passado, logo após ele ter denunciado Zveiter à Procuradoria-Geral da República. Garotinho afirma ainda que nem ele nem nenhum dos acusados cometeram crime algum e, conforme disse ontem no seu programa de rádio, foi alertado por um agente penitenciário a respeito de uma reunião entre Sergio Cabral e Jorge Picciani, durante a primeira prisão do deputado em Benfica. Na ocasião, o presidente da Alerj teria afirmado que iria dar um tiro na cara de Garotinho.
Agora, a ordem de prisão do juiz Glaucenir é para que Garotinho vá com sua esposa para Benfica, justamente onde estão os presos da Lava Jato. Cabe frisar que essa a operação à qual Garotinho e Rosinha respondem não tem relação alguma com a Lava Jato. – Assessoria de Garotinho e Rosinha”.
O ex-governador não apresentou o programa diário na Rádio Tupi, devido a prisão, e o radialista Cristiano Santos entrou no ar no lugar de Garotinho para explicar o que acontecia naquele momento:
“Vocês devem estar estranhando eu aqui. A Polícia Federal prendeu nesta manhã o Garotinho aqui no Rio e a sua esposa Rosinha, em Campos. A defesa vai se pronunciar assim que tiver acesso aos documentos que embasaram a prisão, o que ainda não ocorreu”.
Quando da prisão anterior de Garotinho, dia 13 de setembro, no momento em que ele apresentava o programa na Rádio Tupi, o locutor Cristiano Santos disse que o ex-governador se ausentara por “problema na voz”. A prisão temporária de Garotinho havia sido determinada pelo juiz Ralph Manhães, da 100ª Zona Eleitoral de Campos dos Goytacazes, que o condenou a 9 anos e 11 meses por corrupção eleitoral, associação criminosa, coação de duas testemunhas e supressão de documentos.
A medida foi posteriormente convertida em prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica. No entanto, ele conseguiu habeas corpus dia 26 daquele mesmo mês. O relator do caso, ministro Tarcísio Vieira, entendeu ser ilegal o mandado de prisão, uma vez que a instrução do processo já tinha sido encerrada e que o entendimento do Supremo Tribunal Federal é de que o cumprimento da pena só pode se dar após condenação em segunda instância.
Dia 11 de novembro do ano passado, Anthony Garotinho também já havia sido preso suspeito de envolvimento em um esquema de compra de votos. Segundo a polícia, uma associação criminosa foi montada para fraudar as últimas eleições em Campos dos Goytacazes, na qual foi eleita a ex-governadora Rosinha Matheus.
*Athaliba dos Anjos é repórter e correspondente do Vila de Utopia.
1 comentário
Agora está lá toda a camarilha, bem junta e bem misturada em Benfica.